quinta-feira, 6 de junho de 2013

Quando coisas ruins acontecem às pessoas boas



Recomendo este livro para quem como eu pensou em Deus como culpado da morte da minha filha.Quando perdi a Letícia sofri muito porque era muito religiosa, rezei muito por ela e com ela e Deus não me ouviu, então se eu rezei tanto Por quê?Se Deus existe, porque coisas ruins acontecem a pessoas boas? Por que alguns rezam e são atendidos e outros rezam e não são?Por quê?Porque Deus a deixou nascer com aquela doença?Foi Deus que permitiu?Então visitando um blog recebi a indicação deste livro: Quando coisas ruins acontecem às pessoas boas do rabino Harold S. kushner. O autor começa por explicar que o seu livro surgiu da dor de ver seu filho, Aaron, morrer quando ele tinha apenas 14 anos. Quando Aaron tinha apenas três anos, ele foi diagnosticado com progeria, uma doença rara, na qual a criança envelhece rapidamente. Ao ouvir o diagnóstico, a reação natural do autor foi de raiva e confusão. Ele sempre acreditou que Deus era bom e justo; mas como um Deus bom poderia tratar uma criança desta maneira? Afim de chegar a uma explicação do sofrimento, o autor começa por avaliar as explicações para o sofrimento, com as quais ele cresceu e encontrou, quando tentou lidar com a doença e a morte do filho, e nenhuma conseguiu satisfazê-lo. Ele percebeu que a maioria das explicações servem mais para desculpar Deus do que explicar o sofrimento; mais do que isso, a experiência mostra que elas são falsas. Copiei algumas frases,o negrito é meu:
“A idéia de que Deus dá às pessoas o que elas merecem, de que nossos desmandos causam nossas
Desgraças, de certa forma é uma solução tranqüila e atraente para o problema, mas tem numerosas e sérias limitações. Como vimos, ela ensina as pessoas a se censurarem. Cria culpa mesmo onde não há razão para culpa. Faz as pessoas odiarem Deus, embora odiando-se também a si mesmos. E, mais perturbador que tudo, nem sequer se adapta aos fatos”.p.19

“Examinemos uma outra questão: O sofrimento pode ser educativo? Pode acabar com nossos defeitos e melhorar a gente? Há pessoas religiosas que gostariam de acreditar nas boas razões de Deus para nos fazer sofrer, chegando ao ponto de imaginar quais seriam essas razões... Em suma, o propósito do sofrimento é reparar os defeitos da personalidade do homem. "p.27

“Todos sabemos de casos de criancinhas que, no exato momento em que se deixou de prestar-lhes atenção, caíram de uma janela ou dentro de uma piscina e morreram. Por que Deus permite semelhante coisa acontecer a uma criança inocente? Não pode ser para ensinar a criança a exploração de novas áreas. Ao tempo em que a lição estiver acabada, a criança estará morta. Será para ensinar aos pais e babás a ficarem mais cuidadosos? A vida de uma criança é preço caro demais para uma lição tão banal. Seria para tornar os pais pessoas mais sensíveis e dotadas de compaixão, mais apreciadoras da vida e saúde por causa de sua experiência? Seria para induzi-las a propor melhores padrões de segurança, salvando, desse modo, milhares de vidas futuras? O preço é ainda muito alto, e quem assim raciocina pouca consideração mostra pelo valor de uma vida individual. Sinto-me ofendido com aqueles que sugerem que Deus cria retardados mentais para despertar a compaixão e gratidão dos que vivem ao seu redor. Por que haveria Deus de torcer a vida de alguém a um tal grau apenas para elevar minha sensibilidade espiritual?”p.31

“Fui pai de uma criança deficiente durante 14 anos, até sua morte. A idéia de que Deus me escolheu por causa de uma força interior especial e porque sabia que eu era capaz de me sair melhor que os outros não me confortou. Tal idéia não me fez sentir um “privilegiado” nem me ajudou a compreender por que razão Deus precisa,a cada ano ,enviar crianças deficientes a centenas de milhares de famílias insuspeitas.” P.32

No lugar das explicações, que ele descarta, o rabino sugere que Deus nos deu a liberdade para fazermos o que quisermos e, portanto muitas vezes sofremos por nossas escolhas, assim Deus, permite porque não desrespeita as leis que ele mesmo criou: leis da natureza e liberdade humana. Deus não é o culpado dos vícios dos pais que fazem sofrer os filhos A culpa é do pai. Se você ligar o secador de cabelo na voltagem errada, é claro que você vai queimar o motor do secador. Isto ocorre porque você agiu contra o manual de instruções do secador. Não é vontade de Deus!

“Se tivermos crescido, como o foram Jó  e seus amigos, acreditando em um Deus onividente, onisciente e onipotente, será difícil para nós, como para eles também foi, mudar nossa maneira de pensar sobre Ele (da mesma forma que não foi fácil, quando éramos crianças, constatar que nossos pais não eram onipotentes, que um brinquedo quebrado tinha de ser jogado fora porque eles não podiam consertá-lo, embora quisessem fazê-lo). Porém, se pudermos nos persuadir de que há situações que fogem ao controle de Deus, muitas coisas boas se tornarão possíveis. Seremos capazes de recorrer a Deus e pedir-lhe a ajuda que está ao seu alcance nos proporcionar, em vez de alimentarmos expectativas irrealísticas que Ele jamais transformará em realidade. A Bíblia, afinal, fala repetidamente de Deus como o maior protetor do pobre, da viúva e do órfão, sem discutir as razões pelas quais eles se tornaram pobre, viúva ou órfão.É possível conservar nosso auto-respeito e nosso sentimento de bondade sem ter que pensar que Deus nos julgou e nos condenou. A raiva que sentimos pelo que nos aconteceu não implica em sentir raiva de Deus. Mais que isto, podemos reconhecer nossa raiva pela injustiça da vida, nossa compaixão instintiva pelo sofrimento humano, como provenientes de Deus que nos ensina a odiar a injustiça e a sentir compaixão pelo aflito. Em vez de nos sentirmos do lado contrário ao de Deus, sabemos que nossa indignação é a ira de Deus pela injustiça de que somos vítimas e que, quando choramos, continuamos junto a Deus e Ele continua junto a nós”.p.49 e 50
 “As leis da natureza não abrem exceções para os bons. Uma bala perdida não tem consciência: nem a tem um tumor maligno ou um carro fora de controle...” pg 63
O autor sugere ainda que, Deus talvez permita o infortúnio porque, abstendo-se de intervir miraculosamente, Ele abre espaço para que os seres humanos ajam. Ao invés de perguntarmos por que coisas ruins acontecem, o rabino cita Dorothee Soelle, que diz que "porque" é a pergunta errada a se fazer, a respeito do sofrimento. A pergunta correta é, na verdade, o que nós podemos fazer com o nosso sofrimento para conferir-lhe significado, para criarmos o bem, do mal que cada um tem de suportar.
“Não sei por que uma pessoa fica doente e outra não, mas suponho que algumas leis naturais que ignoramos estão em ação. Não consigo aceitar a idéia da doença “enviada” por Deus a alguém em especial por uma razão determinada. Não acredito que Deus tenha semanalmente uma quota de tumores malignos a distribuir ou que consulte Seu computador para saber quem merece mais ou quem pode suportar melhor. “Que fiz eu para merecer isto?” é um grito compreensível da parte de um enfermo ou de um sofredor, porém a pergunta está realmente mal formulada. Ficar doente e ter saúde não é decidido por Deus conforme nosso merecimento. A formulação melhor é: “Se isto me aconteceu, que faço eu agora e quem está aí para me ajudar?” (...) torna-se muito mais fácil levar Deus a sério como uma fonte de valores morais quando não o responsabilizamos por todas as injustiças que existem no mundo.”P 65
Orar pela saúde de uma pessoa, pelo resultado favorável de uma operação tem implicações que só podem preocupar a alguém que pensa. Se a oração funcionasse como muitas pessoas acham, ninguém morreria, porque nenhuma oração é feita com maior sinceridade que aquela pela vida, pela saúde e pela recuperação de uma doença, por nós ou pelos que amamos. p.115
Existem diversas maneiras de responder a alguém que pergunta: “Por que não obtive aquilo por que orei?”E a maioria das respostas são problemáticas, conduzindo a sentimentos de culpa, ou raiva ou desesperança.”p.116
“Tampouco, como já sugerimos, podemos pedir a Deus que mude as leis da natureza, que torne condições fatais menos fatais ou que mude o curso inexorável de uma doença. Por vezes milagres acontecem. Malignidades misteriosamente desaparecem, pacientes incuráveis se recuperam, e os médicos, perplexos, atribuem-no a um ato de Deus. Tudo o que podemos fazer em tais casos é acompanhar a gratidão confusa do médico. Não sabemos por que uns se recuperam espontaneamente de doenças que matam ou aleijam outros. Não sabemos por que certas pessoas morrem em desastres de carro ou avião, enquanto outras, sentadas ao seu lado, se salvam com poucos ferimentos ou queimaduras, além de um grande susto. Não posso acreditar que Deus ouça as orações de uns e não as de outros. Não haveria qualquer razão para Ele assim proceder. E as mais minuciosas pesquisas nas vidas das pessoas que morreram ou que sobreviveram não nos ensinariam a viver ou a orar de modo a merecermos também nós os favores de Deus.”p.118
“Se não podemos orar a Deus pelo impossível ou pelo que não é natural, se não podemos orar no sentido de vingança ou irresponsabilidade, pedindo a Deus para levar a cabo o que compete a nós fazer, o que sobra para pedirmos em oração?”p.120
Segundo o autor devemos rezar para pedir força e coragem e não cura e milagres:
 “... Não podemos orar para que Ele torne nossas vidas livres de problema; isto não acontecerá, e será o mesmo que não orar. Não podemos pedir-Lhe que nos livre a nós e àqueles que amamos da doença, porque Ele não pode fazer isto. Não podemos pedir-Lhe que estenda uma rede mágica ao nosso redor, de modo que as coisas ruins só atinjam às outras pessoas, nunca a nós. As pessoas que rezam por milagres normalmente não conseguem milagres, como as crianças que rezam por bicicletas, por boas notas ou por namorados não os conseguem através de suas orações. Mas aqueles que oram por coragem, por fortaleza para suportar o insuportável, em agradecimento pelo que lhes foi deixado frente ao que lhes foi tirado, estes muito freqüentemente têm suas orações atendidas. Eles descobrem que têm mais força e mais coragem do que jamais pensaram ter. Onde a conseguem? Penso que suas orações ajudaram-nos a descobrir aquela força. Suas orações ajudaram-nos a trazer à tona aquelas reservas de fé e coragem que antes não lhes estavam disponíveis.”p.126
“Se Deus não pode acabar com minha doença, para que serve Ele? Quem precisa dEle?” Deus não deseja que você esteja doente ou aleijado. Ele não lhe causou este problema e não deseja que você continue assim, mas Ele não pode afastá-lo. Seria pedir algo que é difícil até para Deus. Para que serve Ele, então? Deus faz com que pessoas se tornem médicos e enfermeiras para prestar auxílio e dar alívio. Deus ajuda-nos a ser corajosos mesmo quando estamos doentes e amedrontados e nos dá a certeza de que não enfrentamos nossos medos e nossas dores sozinhos.”p.130
“A explicação convencional, segundo a qual Deus nos manda o fardo porque sabe que somos fortes o suficiente para suportá-lo, é totalmente incorreta. O destino, não Deus, nos envia o problema. Quando estamos às voltas com ele, descobrimos que não somos fortes. Somos fracos; sentimo-nos cansados, irados, sobrecarregados. Começamos a nos questionar o que fazer ao longo dos anos. E quando atingimos os limites de nossa força e coragem, algo inesperado nos acontece. Encontramos reforço vindo de uma fonte que fica fora de nós. E conscientes de que não estamos sós, de que Deus está ao nosso lado, conseguimos ir em frente.”P. 130
Deus não causa as nossas desgraças. Algumas são causadas por má sorte, outras vêm de gente perversa e outras ainda são simplesmente a conseqüência inevitável do fato de sermos seres humanos e mortais, vivendo em um mundo de leis naturais inflexíveis. As coisas dolorosas que nos afligem não são punição por nosso mau comportamento nem, de qualquer forma, fazem parte de um grande desígnio de Deus. Como a tragédia não decorre da vontade de Deus, não precisamos sentir-nos magoados ou traídos por Deus quando a tragédia nos golpeia. É possível ir a Ele em busca de auxílio para superá-la precisamente porque podemos dizer que Deus está tão ofendido quanto nós.P. 135
“Seja-me permitido sugerir que os males que surgem em nossas vidas não contêm nenhum significado especial. Não acontecem por nenhuma boa razão que nos faça aceitá-los de boa vontade. Mas podemos dar a eles um sentido. Podemos redimir essas tragédias da falta de sentido impondo-lhes um sentido. A questão que devemos propor não é “Por que isto me aconteceu? Que fiz eu para merecer isto?” Esta é uma questão realmente irrespondível, sem graça. Uma pergunta mais interessante seria: “Agora que isto me aconteceu, que vou fazer?””P 136
“Que diferença faz Deus em nossas vidas, se Ele nem mata nem cura? Deus inspira as pessoas a ajudarem outras que foram feridas pela vida e, ao ajudá-las, elas as protegem do perigo de se sentirem sós, abandonadas ou julgadas...”
“Deus, que não causa nem elimina as tragédias, ajuda inspirando as pessoas a ajudarem. Como um rabino hasídico do século XIX certa vez observou, “os seres humanos são a linguagem de Deus”...”P. 140
 “Você é capaz de perdoar e aceitar com amor um mundo que o decepcionou por não ser perfeito, um mundo em que existe tanta iniqüidade e crueldade, doença e crime, terremoto e acidente? Pode você perdoar-lhe as imperfeições e amá-lo por conter grande beleza e bondade e por ser o único mundo que nós temos?
Você é capaz de perdoar e amar as pessoas que lhe estão ao redor, mesmo quando elas o ferem e derrubam por não ser perfeito? Acaso pode perdoá-las e amá-las simplesmente porque ninguém é perfeito e porque a penalidade por não ser capaz de amar pessoas imperfeitas é condenar-se à solidão?
Você é capaz de perdoar e amar a Deus mesmo quando descobre que Ele não é perfeito, mesmo quando o magoou e desapontou permitindo a má sorte, a doença e a crueldade em Seu mundo, e permitindo que algumas dessas coisas o atingissem? Porventura pode aprender a amá-Lo e perdoá-Lo, não obstante suas limitações, como Jó fez e como você certa vez aprendeu a perdoar e amar a seus pais depois de perceber que eles não eram tão sábios, tão fortes e tão perfeitos como você precisava que eles fossem?

E se você puder fazer tudo isto, poderá ainda reconhecer que a capacidade de perdoar e a capacidade de amar são as armas com que Deus nos dotou para viver com plenitude, coragem e sentido neste mundo menos-que-perfeito?”P 147


O livro conclui que Deus não é a causa imediata da tragédia .O Sofrimento Não é Uma Punição de um Deus Cruel. Deus não causa nossos infortúnios. Alguns deles são causados por má sorte, alguns são causados por pessoas más, e alguns simplesmente são uma conseqüência inevitável de sermos humanos e mortais. As coisas dolorosas que nos acontecem não são castigos por nosso mau comportamento, nem são, de algum modo, parte de algum grande projeto de Deus. Porque a tragédia não é vontade de Deus, não precisamos nos sentir chateados com Deus e nem traídos por Ele, quando a tragédia nos atinge. Podemos nos dirigir a Ele para que nos ajude a superá-la, exatamente porque podemos nos convencer que Ele se sente tão ultrajado por ela quanto nós.Também gosto de acreditar num Deus bom,queria acreditar que nada acontece sem sua vontade mas, não dá para acreditar que seja a vontade de Deus crianças sofrerem até morrer. Hoje penso diferente do que pensava antes quando a Letícia partiu,hoje penso que não foi vontade de Deus sua partida,Deus não iria querer a morte dela.Vejo que Deus estava ao meu lado desde o nascimento prematuro da Letícia,durante a cirurgia,dias de incubadora,quarenta dias que ela passou em casa e dias de UTI,pois se Deus não estivesse comigo eu não teria conseguido passar por tudo isso.Antes da Letícia nascer a minha preocupação era a de cuidar de um bebe recém nascido que eu nunca havia cuidado então ela nasce prematura e eu não temo mais cuidá-la!

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