E no meio dessa confusão alguém partiu sem se despedir; foi triste. Se
houvesse uma despedida talvez fosse mais triste, talvez tenha sido melhor
assim(...). Creio que será permitido guardar uma leve tristeza, e também
uma lembrança boa; que não será
proibido confessar que às vezes se tem saudades; nem será odioso dizer que a
separação ao mesmo tempo nos traz um inexplicável sentimento de alívio, e de
sossego; e um indefinível remorso; e um recôndito despeito. E que houve momentos perfeitos que passaram,
mas não se perderam, porque ficaram em
nossa vida; que a lembrança deles nos faz sentir maior a nossa solidão; mas
que essa solidão ficou menos infeliz: que
importa que uma estrela já esteja
morta se ela ainda brilha no fundo de nossa noite e de nosso confuso sonho?
Talvez não mereçamos imaginar que haverá outros verões; se eles vierem, nós os
receberemos obedientes como as cigarras e as paineiras — com flores e cantos. O inverno — te lembras — nos maltratou;
não havia flores, não havia mar, e fomos sacudidos de um lado para outro como
dois bonecos na mão de um titeriteiro inábil.(...)
(Rubem Braga, do livro A Traição das Elegantes, Editora Sabiá, Rio de Janeiro, 1967.)
Eu me recuso a dizer Adeus Letícia; digo até o dia
do nosso reencontro...
Nenhum comentário:
Postar um comentário