♡"No dia em que você nos deixou...Eu te
peguei no colo pela última vez, enquanto teus batimentos cardíacos
caiam...Naquele momento difícil que durou poucos minutos, muitas coisas
passaram pela minha cabeça, lembrei da alegria que senti na primeira vez que escutei
teu coraçãozinho bater e ali via teus últimos batimentos, junto com os
batimentos estavam indo todos os sonhos que sonhei para você, para nós, tudo o
que não iria acontecer, jamais...
Durante toda a viagem de volta para casa, não conseguia acreditar que
aquilo estava acontecendo conosco, eu esperava que em uma reviravolta louca
você iria abrir os olhinhos e olharia tudo ao redor e começaria a chorar e
estaria viva. Sim, é absurdo, mas eu aprendi que no luto o absurdo é o comum de
quem ama. Não conseguia entender porque estava morta. Meus pensamentos giravam
muito sobre aquela última semana, sobre tudo o que havia acontecido...Era muito
doloroso saber que amamentava minha bebê e de repente ela está morta e tenho
que tomar remédio para secar o leite, cortam os cabelinhos da minha bebê e a
batizo dentro de uma U.T.I, nem seus
órgãos consigo doar devido uma infecção hospitalar, escolho uma roupinha, uma
tiara para ela usar, roupa que comprei com tanto amor, para usar viva e não
morta, fui a funerária comprar seu caixãozinho, meus braços nunca mais
segurariam minha bebê...Depois do velório, voltamos para casa, o bercinho,
estava como deixamos desde da última vez que ela dormiu, o carrinho, as
roupinhas que estavam para passar...tudo como se ela fosse voltar... Doeu
desmanchar o berço, doeu continuar vivendo,
dias depois, o Luiz voltou ao trabalho e eu fiquei sozinha em casa, e
minha solidão e meu isolamento aumentaram.... Juntamente com o silêncio e o
frio veio uma dor dilacerante. Nada que eu vivi até o momento daquela dor
poderia se comparar àquele sofrimento, nada. Nem sei dizer se aquilo era
sofrimento, eu acho até que aquilo ali nem nome tem. De tudo que restou em mim,
a coisa que mais se sobressaiu foi a dor. É verdade, o luto dói de tantas
maneiras que eu não poderia jamais imaginar e que talvez eu jamais saiba
descrever. O luto doeu psicologicamente, fisicamente e espiritualmente. Eu me
sentia vazia e solitária, em todos estes aspectos. Então, eu aprendi que às
vezes a gente deseja morrer, tão involuntariamente, que chega a ser inocente. É
apenas o desespero para aliviar a dor gritando mais alto dentro de nós. E eu
desejei a minha morte, muitas vezes, seria o jeito de encontrá-la, ou de acabar
com aquela dor. E Eu enlouqueci! Cheguei a pensar que ela voltaria. E eu notei
que tinha gente solidária ao nosso sofrimento, mas
também tinha pessoas de alma dura, que julgam o sofrimento e tentam roubar o direito de viver o luto. Sim, o luto
precisa ser vivido. Afinal, ele é também uma etapa da vida: nascemos, vivemos e
morremos. Neste espaço do “vivemos”, enterramos quem amamos. Estar de luto
significa que você está vivo. E com isso, refleti muito sobre a minha conduta
quando eu estava na posição de escutar o outro sobre o luto: E percebi o quanto
eu estava errada! Não estava tão errada quanto a uma psicóloga do hospital, que
vendo nosso sofrimento nos sugeriu sair para comer uma pizza. Senti um misto de
ressentimento e revolta. Chorei, chorei, chorei...Se existe um alívio melhor
que chorar e deixar as lágrimas apenas escorrerem em silêncio, eu ainda não
descobri qual é. Mas tenho certeza que, ao menos para mim, dopar meus
sentimentos com medicamentos e fingir não sentir nada, jamais solucionará meus
problemas. Quando alguém disser: “Não chore!”. Teime e chore sim. O choro é
necessário, a tristeza é saudável. Aprendi também que as realizações pessoais a
serem comemoradas se tornam alegrias com uma pontinha de tristeza e é preciso
coragem para enfrentar isso. É preciso coragem para comemorar datas festivas, é
preciso força para continuar e é preciso audácia para dar valor à sua própria
vida e às suas conquistas. A vida após um luto consiste em um exercício diário.
Dia após dia, as nossas reações se modificam, nossos sentimentos se acalmam.
Depois de algum tempo chega uma saudade comprida e cheia de amor, recheada de
lembranças que chegam de repente, e nos arrancam um sorriso meio bobo ou uma
lágrima contida. Aos poucos entendi que a vida não para em prol do meu sofrimento,
o mundo não deixa de girar para sofrermos, tudo permanece como está e segue o
fluxo normal. Voltei a viver. Eu aprendi que existe vida após o luto. E uma
vida mais consciente de que o tempo é curto, que nada é certo e que tudo pode
mudar de um minuto para o outro. Mas a maior de todas as coisas que eu aprendi
é que se mil vidas eu tivesse, mil vidas eu aceitaria enfrentar essa dor,
apenas pelo prazer de ter engravidado da minha menininha, de tê-la sentido
dentro de mim, de ter amamentado, segurá-la nos braços, ter dormido nos meus
braços todas as noites que esteve comigo. Se ter a história que eu tive, exigia
carregar esta dor, eu a carregaria mil vezes sem a menor dúvida. Com o luto eu
aprendi a jamais me arrepender de amar, descobri no Luiz, um pai amoroso na
vida e na morte, um companheiro para todos os momentos e um amor além da
vida...saudades do que não pudemos viver.....