sábado, 10 de agosto de 2019

8 anos de Saudades



  
"No dia em que você nos deixou...Eu te peguei no colo pela última vez, enquanto teus batimentos cardíacos caiam...Naquele momento difícil que durou poucos minutos, muitas coisas passaram pela minha cabeça, lembrei da alegria que senti na primeira vez que escutei teu coraçãozinho bater e ali via teus últimos batimentos, junto com os batimentos estavam indo todos os sonhos que sonhei para você, para nós, tudo o que não iria acontecer, jamais...  Durante toda a viagem de volta para casa, não conseguia acreditar que aquilo estava acontecendo conosco, eu esperava que em uma reviravolta louca você iria abrir os olhinhos e olharia tudo ao redor e começaria a chorar e estaria viva. Sim, é absurdo, mas eu aprendi que no luto o absurdo é o comum de quem ama. Não conseguia entender porque estava morta. Meus pensamentos giravam muito sobre aquela última semana, sobre tudo o que havia acontecido...Era muito doloroso saber que amamentava minha bebê e de repente ela está morta e tenho que tomar remédio para secar o leite, cortam os cabelinhos da minha bebê e a batizo dentro de uma U.T.I,   nem seus órgãos consigo doar devido uma infecção hospitalar, escolho uma roupinha, uma tiara para ela usar, roupa que comprei com tanto amor, para usar viva e não morta, fui a funerária comprar seu caixãozinho, meus braços nunca mais segurariam minha bebê...Depois do velório, voltamos para casa, o bercinho, estava como deixamos desde da última vez que ela dormiu, o carrinho, as roupinhas que estavam para passar...tudo como se ela fosse voltar... Doeu desmanchar o berço, doeu continuar vivendo,  dias depois, o Luiz voltou ao trabalho e eu fiquei sozinha em casa, e minha solidão e meu isolamento aumentaram.... Juntamente com o silêncio e o frio veio uma dor dilacerante. Nada que eu vivi até o momento daquela dor poderia se comparar àquele sofrimento, nada. Nem sei dizer se aquilo era sofrimento, eu acho até que aquilo ali nem nome tem. De tudo que restou em mim, a coisa que mais se sobressaiu foi a dor. É verdade, o luto dói de tantas maneiras que eu não poderia jamais imaginar e que talvez eu jamais saiba descrever. O luto doeu psicologicamente, fisicamente e espiritualmente. Eu me sentia vazia e solitária, em todos estes aspectos. Então, eu aprendi que às vezes a gente deseja morrer, tão involuntariamente, que chega a ser inocente. É apenas o desespero para aliviar a dor gritando mais alto dentro de nós. E eu desejei a minha morte, muitas vezes, seria o jeito de encontrá-la, ou de acabar com aquela dor. E Eu enlouqueci! Cheguei a pensar que ela voltaria. E eu notei que  tinha  gente solidária ao nosso sofrimento, mas também tinha  pessoas de alma dura, que  julgam o sofrimento e tentam  roubar o direito de viver o luto. Sim, o luto precisa ser vivido. Afinal, ele é também uma etapa da vida: nascemos, vivemos e morremos. Neste espaço do “vivemos”, enterramos quem amamos. Estar de luto significa que você está vivo. E com isso, refleti muito sobre a minha conduta quando eu estava na posição de escutar o outro sobre o luto: E percebi o quanto eu estava errada! Não estava tão errada quanto a uma psicóloga do hospital, que vendo nosso sofrimento nos sugeriu sair para comer uma pizza. Senti um misto de ressentimento e revolta. Chorei, chorei, chorei...Se existe um alívio melhor que chorar e deixar as lágrimas apenas escorrerem em silêncio, eu ainda não descobri qual é. Mas tenho certeza que, ao menos para mim, dopar meus sentimentos com medicamentos e fingir não sentir nada, jamais solucionará meus problemas. Quando alguém disser: “Não chore!”. Teime e chore sim. O choro é necessário, a tristeza é saudável. Aprendi também que as realizações pessoais a serem comemoradas se tornam alegrias com uma pontinha de tristeza e é preciso coragem para enfrentar isso. É preciso coragem para comemorar datas festivas, é preciso força para continuar e é preciso audácia para dar valor à sua própria vida e às suas conquistas. A vida após um luto consiste em um exercício diário. Dia após dia, as nossas reações se modificam, nossos sentimentos se acalmam. Depois de algum tempo chega uma saudade comprida e cheia de amor, recheada de lembranças que chegam de repente, e nos arrancam um sorriso meio bobo ou uma lágrima contida. Aos poucos entendi que a vida não para em prol do meu sofrimento, o mundo não deixa de girar para sofrermos, tudo permanece como está e segue o fluxo normal. Voltei a viver. Eu aprendi que existe vida após o luto. E uma vida mais consciente de que o tempo é curto, que nada é certo e que tudo pode mudar de um minuto para o outro. Mas a maior de todas as coisas que eu aprendi é que se mil vidas eu tivesse, mil vidas eu aceitaria enfrentar essa dor, apenas pelo prazer de ter engravidado da minha menininha, de tê-la sentido dentro de mim, de ter amamentado, segurá-la nos braços, ter dormido nos meus braços todas as noites que esteve comigo. Se ter a história que eu tive, exigia carregar esta dor, eu a carregaria mil vezes sem a menor dúvida. Com o luto eu aprendi a jamais me arrepender de amar, descobri no Luiz, um pai amoroso na vida e na morte, um companheiro para todos os momentos e um amor além da vida...saudades do que não pudemos viver.....

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