terça-feira, 30 de abril de 2013

Você pode ter outro”.


Desde que perdi a Letícia, ou até mesmo antes de perder naquele hospital, as pessoas não sabiam o que dizerem então elas diziam e dizem “Você pode ter outro”. Quem disse para elas que eu posso ter outro?Antes do casamento lembro que fui a um ginecologista e ele me disse que eu não poderia ter filhos,mas não disse que eu poderia ter anjos, então fui conversar com meu namorado (hoje meu marido) sobre o assunto, queria até desmarcar o casamento, mas, ele muito compreensivo disse que não teria problemas então casamos com este pensamento, o tempo passou,não conversamos mais sobre o assunto e fui a outro ginecologista e nunca mais questionei se poderia ou não ter filhos talvez até uma autodefesa minha,então depois de 5 anos engravidei...(É a Letícia era um anjo)Lembro-me que nos dias de UTI o pai da Letícia não falava coisa com coisa e eu apenas escutava não tinha nem forças para concordar ou discordar, lembro que uma das coisas que ele dizia era “Nós vamos ter outra menina e vamos colocar o nome Letícia”,eu na minha insanidade após perdê-la também pensava muitas bobagens...Mas,passado o susto daqueles dias de UTI,caiu-me a realidade de que a Letícia possuía uma doença genética com a possibilidade de 25 % de outra criança nascer com a doença...Fibrose Cística. Quando você vê alguém com dor, você não quer ver mais pessoas com dor. Você não quer ver uma criança nascer só para sofrer e morrer antes de completar a maioridade, ou, caso sobrevivam, que tenham que usar medicações a vida inteira, fazer transplantes, inalações, hospitalizações, etc... Até porque antes de engravidar eu não sabia que tinha esta doença genética, se soubesse não iria arriscar ter uma criança doente. Não se trata de ser egoísta. Não tem nada a ver com querer bebês sob medida. Não estou sendo injusta com pessoas com doenças ou deficiências.Estou querendo dizer que quando temos uma criança doente não queremos perdê-la,eu não queria!E amamos muuuito! Mas,se temos como impedir que uma criança sofra,devemos fazê-lo,penso que do contrário seria egoísmo querer um filho de qualquer jeito só para dizer que tem um filho!Valendo-me disso e pensando não apenas em mim,mas na possibilidade de gerar outra criança doente e na dor que isso iria causar a toda família,pois sei que doeu muito para as tias,avós e primos a perda da Letícia,sei que choraram muito,muitas vezes escondido de mim, fui atrás da técnica conhecida como PGD(Prognóstico pré implantacional) que através da fertilização in vitro se desenvolve embriões e estes são analisados quais são saudáveis antes de implantar,para tanto fui até Curitiba PR,mas, ouvindo o médico dizer que desenvolveria em torno de 10 embriões pois poderiam ter apenas 1 ou 2 sem a doença.Assim,durante a consulta já desisti da ideia pensando nos embriões(filhos) que seriam descartados(mortos) para ter um saudável.Sei que outras mulheres não se importam com isso não vêem como aborto,mas, eu vejo e eu vendo não aceito,não quero criticar quem faz esta técnica ,mas, para mim,não serve. Então em uma consulta de rotina com ginecologista descobri que tenho um cisto no ovário, depois de pensar muito, cheguei à conclusão que talvez seja Deus que não me quer ver mais sofrendo com outra criança doente. Mas é claro que quando alguém quer me consolar me dizendo “Você pode ter outro”, eu dou apenas um sorriso, não querendo ser dramática, pois desde que a Letícia foi morar no Céu e me perguntam se estou bem digo que sim, e assim vou levando a vida...

Um comentário:

  1. Ai Lili, a única coisa que posso dizer pra vc é que nao importa o que aconteça, ou o que vc decidir, ou ainda o que Deus decidir, estarei sempre do seu lado te apoiando, orando por vc. Mta força querida

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