Há sete anos eu vi minha
filha voltar para Deus. Eu a segurei no colo para me despedir enquanto os
batimentos cardíacos caiam até zerar... Neste momento eu cantei pela última vez
"dorme neném..." Eu rezei pela última vez a oração do Santo Anjo com
a mão em sua cabecinha. Eu lutei junto com ela pela sua vida. Eu esperei o
último exame de EEG com uma esperança fora do normal, esperança de mãe. Eu escolhi pela última vez a roupinha que usaria a tiara,
tudo como sempre: rosa, desta vez para voltar para a casa de Deus. Eu gritei de dor, sem saber
o que faria... ⠀ Eu fiquei descontrolada
dentro daquele hospital por ela. Eu vi todos os nossos planos indo embora.Eu fui a uma funerária escolher um caixão para colocar minha amada bebezinha... Enquanto voltava para casa de Florianópolis ao invés dela estar no bebê conforto, estava num caixãozinho e lembrei das alegrias que vivi com ela, do dia do exame de gravidez positivo, das primeiras roupinhas compradas, do enxoval que eu bordei, da matrícula que o papai já havia feito na creche, do futuro que pensei ao seu lado e que não existiria mais, olhei para o céu e vi uma estrelinha que nos seguia... Chegamos ao funeral, me segurei oque pude para não tirá-la dali, parecia que dormia e aí esperei que a qualquer momento abrisse os olhos, chorasse...Eu ainda não acreditava no que estava acontecendo...Muitos vinham e diziam: "Você vai ter outro" eu apenas escutava eu não queria outro, queria a minha filha! Eu ajudei a carregar o caixãozinho até o cemitério e deixei a minha pequena bebezinha lá... Eu voltei para casa de malas cheias, mas meus braços e o coração
vazio. Eu tive que ser forte mesmo querendo desabar. Eu cheguei em casa e
encontrei o berço vazio. Eu levo
flores, bonecas e anjinhos ao seu túmulo.Eu me senti culpada pela partida dela, me julguei e busquei o porquê de tudo ter acontecido. Eu gritei com Deus em muitos momentos de desespero. Eu fico relembrando todos os momentos como um cálculo para tentar achar o erro. Eu fico imaginando onde ela está e como está. Eu fico sonhando em como ela seria, como estaria. Eu sonho acordada com seu olhar e seu choro... Eu escutei muitas vezes, por ter uma determinada profissão, seria mais fácil... Quando é fácil uma mãe perder um filho? Eu penso nela o tempo todo e a
todo tempo. Sinto e sentirei sua falta até o meu último suspiro.
Sinto saudades do que não vivi. Morro de angústia pensando nos "e
se". Me revolto por sua morte tão prematura. Uma mãe não se acostuma com a
morte de um filho, ninguém é forte a esse ponto. E a palavra superação me
parece inadequada, visto que é impossível superar algo tão incompreensível. Não desejo esta perda a ninguém, pois somente entende a dor quem já passou, por tamanha perda... Nesses sete anos, porém, aprendi a ouvir as explicações das pessoas diante do
inexplicável e a me calar, para não render o assunto. Aprendi a conviver com o
luto eterno e tenho consciência de que vez ou outra a tristeza vai me abraçar e
que eu preciso deixar esse sentimento vir à tona quando for necessário para
poder, assim que possível, retomar a vida. Dentro de mim, um turbilhão de
sentimentos trafega: queria ela aqui, mas sei que ela sofreria com aquela doença, não queria que ela sofresse... Ninguém sai do mesmo jeito de uma tragédia. Eu não saí.
Fiquei um pouco louca, um tanto seletiva e passei a aproveitar cada milésimo de
segundo do que me faz bem. Eu já não sou a mesma. Estruturas que eu considerava
sólidas se desfizeram. Revi minhas crenças e minhas prioridades. Refiz a minha
vida...Vejo em cada criança a Letícia e assim me esforço para ajudá-las...Sei que não poderia... Mas assim me sinto bem...
Sou
mãe de uma anjinha. Eu fiquei com a saudade eterna. Eu fiquei com
as lembranças e com o AMOR ETERNO. Eu vivo tentando encontrar o recomeço.
Não existe Adeus para o Amor, ele é eterno, o amor é além da vida, e eu sei que
o meu AMOR é tão grande e infinito que ele vai até o céu. E eu sei que ela vive
em mim. Até breve minha filha! Fica com Deus! Vou me esforçar bastante para merecer estar aí contigo!Te amo sempre!
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