"A casa está escura.
Nas poucas luzes, há uma mãe cabisbaixa, perambulando entre lenços de papel e vazios cheios de saudade. Enquanto as sombras desta mulher buscam algum refúgio para a dor que não cansa de doer, há alguém que porta outra dor, que não cansa de se calar.
Nas poucas luzes, há uma mãe cabisbaixa, perambulando entre lenços de papel e vazios cheios de saudade. Enquanto as sombras desta mulher buscam algum refúgio para a dor que não cansa de doer, há alguém que porta outra dor, que não cansa de se calar.
É o pai.
Ele também perdeu um filho.
Ele também perdeu um filho.
Ele é um homem. E sabe como deve represar o que sente - desde que as primeiras agonias lhe acometeram, as lágrimas caíram sob a reprimenda de tanta gente, proibindo o choro de acontecer. O sofrimento masculino tem a obrigação de ser minimalista, contido pelas amarras de uma suposta força, que constroi sua suposta virilidade. Acontece que, no luto paterno, tudo é um grito rouco de desespero. Diante da morte do filho (o plano de uma gravidez que não chega, um feto, um bebê no útero ou filho grande; todos filhos igualmente), nasce um pai errante, sem lugar, sem origem, sem percurso e linha de chegada. Sua dor está em segundo plano, na necessidade de ser agora o provedor do cuidado ao luto de sua esposa. Sim, é incomparável o vazio de uma mãe sem filho. Mas ela não está só. Enquanto ele cuida do luto de sua esposa, ele se descuida do seu próprio. Ele acredita que não tem o mesmo direito que ela à travessia pela estrada que começa com a morte do filho e ousa reinventar a vida depois da perda.
Mas ele também lambe a ferida da morte, já que ela sabe bem roubar a esperança e fazer da história um mundo de reticências, sem hora para chegar o ponto que começa outro parágrafo.
E há um mundo que não consegue ver esta história, esta dor, este homem, este Pai.
Neste Dia dos Pais, que possamos iluminar finalmente o quarto escuro do luto paterno, e assim brotar um espaço de solidariedade em nossos corações. Descobriremos, enfim, que a morte tem a sua magia, já que nestes encontros solidários com as perdas dos outros, nós também renascemos. E ao reconhecer e apoiar o luto alheio, ficamos mais grávidos de vida."
(Texto de Alexandre Coimbra Amaral, escrito gentilmente para a Campanha de Dia dos Pais do Coletivo O Amor que Guia)
Neste Dia dos Pais, que possamos iluminar finalmente o quarto escuro do luto paterno, e assim brotar um espaço de solidariedade em nossos corações. Descobriremos, enfim, que a morte tem a sua magia, já que nestes encontros solidários com as perdas dos outros, nós também renascemos. E ao reconhecer e apoiar o luto alheio, ficamos mais grávidos de vida."
(Texto de Alexandre Coimbra Amaral, escrito gentilmente para a Campanha de Dia dos Pais do Coletivo O Amor que Guia)
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