domingo, 5 de agosto de 2012

EU RECORDO COM SAUDADE E JAMAISSSSSSSSS Tristeza 49


Há um ano era sexta-feira, na madrugada não conseguia dormir então quebrei a regra da casa e fui até o quarto masculino, e fui até a cama do Luiz, deitei com ele chorando e acabei dormindo um pouco, acordei cheia de dores novamente, com os seios empedrados de leite, fomos até o hospital, bati na porta da UTI para saber como a Letícia tinha passado a noite e saber do exame clínico, mas, como sempre mandaram-nos esperar...Fomos até a assistente social insistir no padre para o batizado e notamos a falta de vontade então num instinto saímos caminhando a procura de uma igreja,pedi para as pessoas na rua... Minha família sempre foi religiosa. Minha mãe não perde um final de semana a igreja e quando perde pensa que cometeu um pecado grave, meu pai até hoje guarda o quadro com a lembrança da sua primeira comunhão, minha irmã vive na igreja. Eu já cheguei a freqüentar oficina de oração, ministrei catequese e até curso de batizado. Fiz Primeira Comunhão, casei na igreja. Também rezo antes de dormir (vez ou outra, caio no sono antes do Amém!), sempre tinha no pescoço uma medalha milagrosa que já havia me dado muitas graças... Era de bijuteria, mas, o Luiz vendo minha fé me deu de presente uma de ouro. Quando fui para a cesárea ter a Letícia tive que tirar e pedi que o Luiz segurasse-a na hora em que estivesse no centro cirúrgico. Minha Letícia nasceu, e eu nem me recordo se agradeci a Deus por este milagre. Só me recordo de pedir a Ele a saúde da pequena. Os dias se passaram, e minha fé em Deus parecia estar aumentando. Todo o dia rezava junto à pequena, pegava-a no colo e a levava para frente da TV, era novenas e mais novenas, já tinha até decorado os horários da benção do santíssimo Sacramento... Eu passava horas rezando ao lado de minha pequena, desde o primeiro dia em que fui visitá-la na incubadora rezava o santo Anjo depois em casa eu e o Luiz colocávamos a mão em sua cabecinha e rezávamos o santo anjo.Rezava o dia todo. Às vezes me pegava rezando sem saber o porquê, só para me acalmar. Fiz promessas... Eu queria muito batizar a Letícia... Eu sonhava com o batizado e uma festa, queria que fosse ao mês de outubro antes mesmo dela nascer, o Luiz achava que era tarde, mas, depois que ela nasceu prematura, ele concordou em batizá-la em outubro, até porque tínhamos planejado fazer o curso de batizado no dia 19/6, ela nasceria dia 24/07, mas como ela nasceu prematura neste dia ela estava com Dois dias de vida, então o próximo curso seria em agosto e nós estávamos em Florianópolis...Eu lembrei que quando ela tinha dois dias e foi submetida a cirurgia foi me sugerido para batizá-la,eu disse NÃO,ela vai viver e eu vou batizá-la na igreja com uma grande festa! Mas agora ela estava com suspeita de morte cerebral então eu precisava batizá-la. Nós caminhávamos nas ruas de Florianópolis a procura de uma igreja e de um padre aos prantos. Lembrei da minha prima que morava em Florianópolis e que antes de sair de casa pedi para o Luiz marcar o telefone dela no celular, liguei e expliquei o quadro da Letícia pedi a ajuda na procura de um padre, que me acalmou e disse que se fosse preciso iria até o fim do mundo achar um padre. Logo me trouxe um padre e o batizado foi feito ali na UTI, ela não estava com o vestidinho branco que eu sempre imaginei, mas, a batizamos. Meus primos aceitaram serem seus padrinhos. Eu chorava de soluçar. Antes de ir embora, o padre me abraçou e disse para eu acreditar em Deus e confiar nos planos Dele. Acreditei. Acreditei em todos os momentos que ela melhoraria. Depois do batizado uma médica veio nos contar sobre o exame clínico feito na noite anterior que havia confirmado que a Letícia estava sem sinais cerebrais, mas, para a confirmação, seriam necessários mais um exame clínico e dois EEG,com intervalos de 24h cada.Minha prima nos perguntou se precisávamos de algo,logo, o Luiz respondeu a Liliane precisa tomar um remédio para secar o leite,ela,saiu dali e trouxe o remédio,tomei-o rapidamente,mas ,não antes de lembrar o quanto havia me esforçado para produzir esse leite;os exercícios nos seios recomendados pelo ginecologista desde a primeira consulta no pré natal,as rezas para que tivesse leite o suficiente para amamentá-la,as comidas que minha mãe me trazia e os chás,os chás de erva doce que perfumavam minha casa e que eram tomados a toda hora...Depois veio outra médica nos relatando que a Letícia seria transferida para a UTI neo-natal,pois ,estavam precisando daquele leito na UTI geral e ela era a bebe mais pequena dali.Na UTI –Neo a Letícia foi colocada num isolamento,depois entendi,ela estava praticamente morta...não era legal ficar entre os vivos...Mas os médicos da UTI Neo eram mais dedicados,atenciosos,o tempo de visita era maior e eu podia visitá-la juntamente com o Luiz,na outra, só podia um de cada vez.Meus primos a partir daquele dia nos faziam companhia todo o tempo que podiam, insistiram para que eu fosse até seu apartamento,acabei aceitando,lá me fizeram chimarrão,fazia 49 dias(idade da Letícia) que eu não tomava uma cuia de chimarrão,para não fazer mal a Letícia,tomei aquela cuia em lágrimas.

 Fim da vida

Minha vida...
minha vida acabou ali,
naquele instante.

Ali perdi o chão,
ali senti que não podia mais voar.

E então apartir dali já não mais vivi minha vida...
apenas sobrevivi a sua ausência...



(desconheço autoria)

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