Não quero lembrar
esta data com dramatismo… porém, custa imaginar que são passados dois anos
desde a tua partida… e ao olhar para trás fica uma eterna nostalgia de tudo que
não vivi… e tudo pelo qual não lutei… e perdi… Perdi-me de mim… daqueles que me
rodeiam… e agora só espero recuperar algumas nuances daquilo que fui projetando
numa mulher bem mais capaz de encarar o seu futuro… edificando um caminho novo,
com alicerces de certeza que me possibilitará alcançar a convicção que estou
que faço que vivo e conquisto aquilo pelo qual luto… que caio, que me magoou e
me ergo das próprias quedas a que me proponho!Estou em processo de mudança… e
apesar de mais calada… fechada em mim… acredito que no dia, no momento certo…
acontecerá a minha metamorfose e erguerei aos céus… as minhas asas de
borboleta!
Eu me lembro a todo o tempo, cada minuto que estivemos juntas.... Lembro
tudo que aconteceu naquele dia, 10/08/2011, o pior dia da minha vida, nos
mínimos detalhes... E sei que sempre será assim... Da manhã daquele dia, logo
que levantei da cama, falei pro papai é hoje... Como eu já sabia o
que iria acontecer neste dia já pela manhã, antes de entrar no hospital, fui
pegar no carro uma roupa para vesti-la, peguei seu tip-top que eu comprei
para vesti-la no seu primeiro dia de vida... Lembro o
momento que a levaram fazer o último eletro encéfalo grama... O momento que o
médico nos procurava para conversar pelo hospital e nós já estávamos com você...
Lembro de cada palavra que o Doutor disse que se via claramente a compaixão que
ele sentia de nós... E de quando a Dra disse se eu queria pegá-la no colo...
Foi a ultima vez que te
vi e que te peguei no colo com vida... Foi nossa despedida...
Pegar minha bebezinha no
colo até zerar seus batimentos cardíacos foi o pior sentimento de dor que já passei... Sua boca, seus olhos,
suas mãozinhas pequeninas, tão magrinhas... Tudo paralisado ali na minha frente
e eu não podia fazer nada para mudar aquele fato... É um pedaço da gente que
morre naquele instante... É uma dor que não tem tamanho nem fim. São perguntas
que de nada mais adianta ouvir as respostas.Estávamos ali, naquele hospital... Longe
de casa, sem saber o que fazer perdidos, indignados e sofrendo muito com a
nossa perda que era inexplicável. Não tinha palavras para descrever, e a dor me
consumia e nos fazia chorar de desespero.
Deus! Quanta dor
sentimos, tínhamos tantos cuidados com nossa bebezinha,era minha princesinha
que estava ali eu não sabia o que fazer,para onde ir...
Vi ela saindo da
UTI enroladinha em lençóis, tudo havia acabado!Minha bebezinha morreu! A
tristeza naquele momento me consumia e é indescritível esse momento de você ter
que seguir o ritual que você não quer decidir o que vestir, onde levar e ainda
se preocupar com a reação das pessoas... É um desespero total.
Enquanto fomos para nossa cidade ela num
caixãozinho eu ficava lembrando os nossos momentos juntas, as tardes
intermináveis que passávamos sozinhas em casa,durante a viagem também observei
no Céu uma estrela brilhante que nos acompanhava,ela já estava lá! Letícia
durante as últimas horas que permaneceu na capela mortuária com nossos
familiares e conhecidos tinha o rosto perfeito e estava muito bonita, parecia
dormir profundamente, às vezes tinha a impressão de sentir sua respiração de
tão serena que estava. A dor que eu sentia por não poder pegá-la no colo
naquele momento é a pior dor que uma mãe pode sentir. A única coisa que passava
na minha cabeça naquelas horas tristes, era em como queria ter minha filha de
novo no meu colo, conversava em pensamento num ato de loucura... Pedia perdão
por não ter cumprido minha promessa de protegê-la, por não ter rezado com tanta
fé... E constantemente, pedia com desespero que Deus devolvesse minha filha ao
meu ventre... Insistia para, que tivesse mais uma chance para cuidar e viver
com minha filha, por pensar que naquele momento eu estava sendo punida e por
isso pedia, por desespero. Queria uma nova oportunidade... Seria tudo
diferente!Eu precisava da minha filha de volta e queria muito tê-la de volta ao
meu ventre. Eu amaria minha menininha da maneira que fosse ‘‘perfeita”, com
seqüelas leves, graves, não me importa nada disso. Queria minha filha nem que
fosse para ficar apenas olhando e sentindo seu cheirinho, mas tê-la comigo.
Letícia
quanta falta eu sinto do teu cheirinho, tuas mãozinhas tão pequeninas. Você foi
e sempre será o meu sonho mais lindo, na verdade o único, pois não sou uma
pessoa de muitos sonhos, para eu ter você era tudo o que eu queria.
Escutar de pessoas
próximas a mim: ”Você vai ter outro” foi ridículo, abominável, como pode alguém
falar isso, num momento daqueles, eu queria ela, eu quero ela!E só ela!
Lembro quando tocou o sino da capela,era verdade minha menininha havia morrido!Lembro-me dos meus sobrinhos amados jogando pétalas de rosa na minha anjinha,porque????Porque ela não saiu daquele caixão e não foi brincar com eles?Não era para ser assim...Voltar para casa depois
daquele dia, depois de deixá-la lá naquele cemitério, foi inimaginável a dor
não tinha fim e não tem e nunca terá, mas eu sentia que não poderia entrar em desespero
e fazer o que minha dor pedia, eu tinha que continuar...
Eu
vejo tudo isso que me aconteceu como uma punição divina, que Deus me submeteu a
passar, Por quê? São vários os motivos que nesta hora uma mãe sente. Eu como
mãe, sabendo da doença da Letícia sabia que ela não teria muito tempo, mas
também não tão pouco.
Hoje
aprendi que ter atitude faz toda a diferença... Se naquela época eu tivesse trocado
de pediatra teriam descoberto o que realmente estava acontecendo. Aquela
pediatra da Letícia deve ter vendido sua alma para o demônio. Quanta estupidez!
Eu fui capaz de achar que Letícia estava com saúde boa, pelo curto espaço de
tempo que esteve com a pediatra dias antes.
Para
mim o que me resta é aceitar essa perda como um castigo, porque é assim que me sinto...
Culpada por não ter sido mais sensível e perceptiva para adivinhar o mal que
estava por vir, por não ter tido ATITUDE quando deveria ter, por ter tido calma
demais e educação demais.
Peço-te
perdão Letícia, por não ter conseguido cumprir com a minha promessa, que era de
nunca me separar de você, de te proteger de tudo e de todos os males e fazer
você muito feliz... Pois é filha, me perdoe... Eu falhei!Eu tinha tantos sonhos
com você, acredito que não vivi o presente tão intensamente com você o quanto
queria ter vivido. O tempo que passamos juntas foi curto, porém intenso, a
ponto de sentir sua presença em meu dia a dia. Às vezes sinto como se você
permanecesse aqui mesmo sem te ver e te tocar!!!
Jamais te esqueceremos nossa bebezinha amada!
E fim de tarde toca o sino
Triste e desconsolado
Logo a diante levam dormindo
Um menino carregado
É que a vida tão de repente
Apagou seu lindo olhar
Outras crianças inocentemente
Estão sorrindo estão a me chamar
Acorda menino acorda
Crianças te chamam pra brincar
Escuta menino escuta
Sua mãe te chama te quer ninar
Corre menino corre
Dessas mãos que te levam
Pra essa fria vala
Menino fala levanta
Chegou a hora o sino vai tocando
Esta chorando triste e comovido
Por que dói muito ver desmoronando
Tanta terra em seu corpinho lindo
Você se vai levando a alegria
E envolvia os amiguinhos seus
Sua mãezinha lágrimas reclama
Te joga um beijo e diz adeus