sábado, 10 de agosto de 2013

Já passaram dois anos...

Não quero lembrar esta data com dramatismo… porém, custa imaginar que são passados dois anos desde a tua partida… e ao olhar para trás fica uma eterna nostalgia de tudo que não vivi… e tudo pelo qual não lutei… e perdi… Perdi-me de mim… daqueles que me rodeiam… e agora só espero recuperar algumas nuances daquilo que fui projetando numa mulher bem mais capaz de encarar o seu futuro… edificando um caminho novo, com alicerces de certeza que me possibilitará alcançar a convicção que estou que faço que vivo e conquisto aquilo pelo qual luto… que caio, que me magoou e me ergo das próprias quedas a que me proponho!Estou em processo de mudança… e apesar de mais calada… fechada em mim… acredito que no dia, no momento certo… acontecerá a minha metamorfose e erguerei aos céus… as minhas asas de borboleta!
Eu me lembro a todo o tempo, cada minuto que estivemos juntas.... Lembro tudo que aconteceu naquele dia, 10/08/2011, o pior dia da minha vida, nos mínimos detalhes... E sei que sempre será assim... Da manhã daquele dia, logo que levantei da cama, falei pro papai é hoje... Como eu já sabia o que iria acontecer neste dia já pela manhã, antes de entrar no hospital, fui pegar no carro uma roupa para vesti-la, peguei seu tip-top que eu comprei para vesti-la no seu primeiro dia de vida...  Lembro o momento que a levaram fazer o último eletro encéfalo grama... O momento que o médico nos procurava para conversar pelo hospital e nós já estávamos com você... Lembro de cada palavra que o Doutor disse que se via claramente a compaixão que ele sentia de nós... E de quando a Dra disse se eu queria pegá-la no colo...
Foi a ultima vez que te vi e que te peguei no colo com vida... Foi nossa despedida...
 Pegar minha bebezinha no colo até zerar seus batimentos cardíacos foi o pior sentimento de dor que já passei... Sua boca, seus olhos, suas mãozinhas pequeninas, tão magrinhas... Tudo paralisado ali na minha frente e eu não podia fazer nada para mudar aquele fato... É um pedaço da gente que morre naquele instante... É uma dor que não tem tamanho nem fim. São perguntas que de nada mais adianta ouvir as respostas.Estávamos ali, naquele hospital... Longe de casa, sem saber o que fazer perdidos, indignados e sofrendo muito com a nossa perda que era inexplicável. Não tinha palavras para descrever, e a dor me consumia e nos fazia chorar de desespero.
Deus! Quanta dor sentimos, tínhamos tantos cuidados com nossa bebezinha,era minha princesinha que estava ali eu não sabia o que fazer,para onde ir...
Vi ela saindo da UTI enroladinha em lençóis, tudo havia acabado!Minha bebezinha morreu! A tristeza naquele momento me consumia e é indescritível esse momento de você ter que seguir o ritual que você não quer decidir o que vestir, onde levar e ainda se preocupar com a reação das pessoas... É um desespero total.
 Enquanto fomos para nossa cidade ela num caixãozinho eu ficava lembrando os nossos momentos juntas, as tardes intermináveis que passávamos sozinhas em casa,durante a viagem também observei no Céu uma estrela brilhante que nos acompanhava,ela já estava lá! Letícia durante as últimas horas que permaneceu na capela mortuária com nossos familiares e conhecidos tinha o rosto perfeito e estava muito bonita, parecia dormir profundamente, às vezes tinha a impressão de sentir sua respiração de tão serena que estava. A dor que eu sentia por não poder pegá-la no colo naquele momento é a pior dor que uma mãe pode sentir. A única coisa que passava na minha cabeça naquelas horas tristes, era em como queria ter minha filha de novo no meu colo, conversava em pensamento num ato de loucura... Pedia perdão por não ter cumprido minha promessa de protegê-la, por não ter rezado com tanta fé... E constantemente, pedia com desespero que Deus devolvesse minha filha ao meu ventre... Insistia para, que tivesse mais uma chance para cuidar e viver com minha filha, por pensar que naquele momento eu estava sendo punida e por isso pedia, por desespero. Queria uma nova oportunidade... Seria tudo diferente!Eu precisava da minha filha de volta e queria muito tê-la de volta ao meu ventre. Eu amaria minha menininha da maneira que fosse ‘‘perfeita”, com seqüelas leves, graves, não me importa nada disso. Queria minha filha nem que fosse para ficar apenas olhando e sentindo seu cheirinho, mas tê-la comigo.
Letícia quanta falta eu sinto do teu cheirinho, tuas mãozinhas tão pequeninas. Você foi e sempre será o meu sonho mais lindo, na verdade o único, pois não sou uma pessoa de muitos sonhos, para eu ter você era tudo o que eu queria.
Escutar de pessoas próximas a mim: ”Você vai ter outro” foi ridículo, abominável, como pode alguém falar isso, num momento daqueles, eu queria ela, eu quero ela!E só ela!
Lembro quando tocou o sino da capela,era verdade minha menininha havia morrido!Lembro-me dos meus sobrinhos amados jogando pétalas de rosa na minha anjinha,porque????Porque ela não saiu daquele caixão e não foi brincar com eles?Não era para ser assim...Voltar para casa depois daquele dia, depois de deixá-la lá naquele cemitério, foi inimaginável a dor não tinha fim e não tem e nunca terá, mas eu sentia que não poderia entrar em desespero e fazer o que minha dor pedia, eu tinha que continuar...

Eu vejo tudo isso que me aconteceu como uma punição divina, que Deus me submeteu a passar, Por quê? São vários os motivos que nesta hora uma mãe sente. Eu como mãe, sabendo da doença da Letícia sabia que ela não teria muito tempo, mas também não tão pouco.
Hoje aprendi que ter atitude faz toda a diferença... Se naquela época eu tivesse trocado de pediatra teriam descoberto o que realmente estava acontecendo. Aquela pediatra da Letícia deve ter vendido sua alma para o demônio. Quanta estupidez! Eu fui capaz de achar que Letícia estava com saúde boa, pelo curto espaço de tempo que esteve com a pediatra dias antes.
Para mim o que me resta é aceitar essa perda como um castigo, porque é assim que me sinto... Culpada por não ter sido mais sensível e perceptiva para adivinhar o mal que estava por vir, por não ter tido ATITUDE quando deveria ter, por ter tido calma demais e educação demais.
Peço-te perdão Letícia, por não ter conseguido cumprir com a minha promessa, que era de nunca me separar de você, de te proteger de tudo e de todos os males e fazer você muito feliz... Pois é filha, me perdoe... Eu falhei!Eu tinha tantos sonhos com você, acredito que não vivi o presente tão intensamente com você o quanto queria ter vivido. O tempo que passamos juntas foi curto, porém intenso, a ponto de sentir sua presença em meu dia a dia. Às vezes sinto como se você permanecesse aqui mesmo sem te ver e te tocar!!!

Jamais te esqueceremos nossa bebezinha amada!
E fim de tarde toca o sino
Triste e desconsolado
Logo a diante levam dormindo
Um menino carregado
É que a vida tão de repente
Apagou seu lindo olhar
Outras crianças inocentemente
Estão sorrindo estão a me chamar


Acorda menino acorda
Crianças te chamam pra brincar
Escuta menino escuta
Sua mãe te chama te quer ninar
Corre menino corre
Dessas mãos que te levam
Pra essa fria vala
Menino fala levanta



Chegou a hora o sino vai tocando
Esta chorando triste e comovido
Por que dói muito ver desmoronando
Tanta terra em seu corpinho lindo
Você se vai levando a alegria
E envolvia os amiguinhos seus
Sua mãezinha lágrimas reclama
Te joga um beijo e diz adeus

 ACORDA MENINO (Fernando Mendes)

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