quinta-feira, 4 de agosto de 2016

Segundo dia da eternidade...

Saímos de casa com a Letícia no dia 03/08/2011, rumo a Florianópolis. Saí com a força que me determinava a mover mundos e fundos para ajudar Letícia e com a coragem que me dizia que tudo daria certo. Tamanha era a minha fé que eu nem cogitava a possibilidade de algo dar errado. Lembro que logo após ela ter “voltado” nos deram um termo de autorização para assinarmos e ali, pela primeira vez eu pensei: “E se eu não quiser assinar?” Mas logo lembrei do porquê de estar ali e eu sabia que não tinha mais volta, eu precisava assinar. Então a levaram e aquele corredor parecia o maior corredor em que eu já havia estado. Fiquei ali parada, esperando ela sumir do meu alcance, até que as portas se fecharam. Meus olhos não me deixaram ver mais nada sem que as lágrimas embaçassem tudo. Ali eu senti, pela primeira vez, o quanto eu era impotente diante de toda a situação. Eu não sabia que a Letícia ficaria semimorta, num berço frio, sendo perfurada por um monte de gente e eu não podia fazer nada, aliás, era eu que tinha levado a Letícia para aquele lugar. Mas eu sabia que tudo aquilo era preciso e mesmo em meio ao furacão de medo que eu sentia, eu ainda acreditava, tudo ia ficar bem! Ficamos esperando e as 14h podemos ver a nossa menina, eu não tinha ideia de como seria...  não foi fácil vê-la  entubada, sem seus cabelinhos, totalmente pálida. Foi uma cena chocante vê-la ali, daquele jeito, deitada sem se mexer, respirando porque o respirador estava estimulando, com os batimentos fracos, saturação altíssima, pressão baixa, eu notei que algo estava errado. Então a médica veio conversar com a gente e nos disse que ela estava sedada. Mas eu estava tão cansada, meus peitos doíam, porque ela não havia mamado e me sugeriram ir ao banco de leite para tirar e assim fui e assim fomos eu e papai para a casa de apoio, coisa que eu nem sabia que existia, mas, que nos foi muito útil...
No dia seguinte dia 04/08 bem cedo fomos até a porta da UTI que se abriria somente as 10h, batemos na porta para obter notícias de como ela havia passado a noite e a notícia foi que ela não havia acordado, pensei que ela estava ainda sedada...Mas não...
Este era apenas nosso segundo dia ali... Houve experiências tristes, muitas!! Foram muitas perdas! Cada perda ali era como se um pedacinho da minha esperança também fosse embora!
Fiquei ali no hospital Infantil com a Letícia 8 dias, Deus me deu tranquilidade todos os dias, devo ainda frisar, TODOS os dias. Eu sabia que a Letícia tinha poucas chances, mas em momento algum me desesperei, entreguei nas mãos de Deus.
Na visita da tarde outra médica nos disse a mesma coisa, ela não estava bem, e aí eu comecei a realmente entender o que estava acontecendo, mas, mesmo assim, eu conversava com ela, dizia que ela tinha que ficar boa para ir para casa comigo. Ela não estava respondendo ao tratamento, nada fazia efeito e ela continuava muito mal, muito grave. Voltamos para a visita da noite e outra médica nos disse que ela estava mal, fomos para a casa de apoio rezei, implorei pra que ela ficasse bem, que eu queria trazê-la pra casa. E rezando eu dormi.

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