terça-feira, 14 de março de 2017

A PERDA DE UM FILHO (DOR QUE NÃO TEM NOME)


É da semente do amor que floresce a saudade...
É da colheita do fruto que surge algo que chamamos de laços e é quando a vida os desata que chamamos de perdas.
Perdas irreparáveis, que não tem nome, dor que dói só de pensar.
Dor que um dia ouvi ser equiparada a um parto inverso: a de devolver o filho. Sem ao menos nos perguntar se damos essa permissão.
Lágrima que não sai. Choro que nos falta o ar.
Medo de viver!
Medo que o medo nunca saia de nosso coração, medo do medo.
Vontade louca de voltar segundos, ou talvez milésimos dele, para gritarmos para nosso filho: saia daí! , ou desvie o carro; ou não ande por essa rua...
Mas nada é possível.
O chão é roubado, o coração parece parar e borboletas voam angustiadas pela nossa alma... o sonho de que tudo seja mentira, que a notícia recebida foi engano, que o nome dito era homônimo.
A mentira se faz verdade!
O nome querido pensado com tanto carinho antes mesmo do nascimento, é trocado por alguém que já o chama de “corpo”.
Seu leito se torna forrado de flores, flores estas que sonhávamos para sua formatura ou casamento e agora o acompanha para emoldurar seu semblante que parece estar em um sono profundo. Olhos que não abrem mais, mãos que não nos afagarão mais, voz que não nos dirá que está com fome ou que quer aquele doce que só você sabia fazer.
O momento de dor intensifica, a cena nos tortura ao invés de nos acalmar. Ele ainda está aqui, mesmo que já não mais em vida.
Mas é hora do último adeus, devolver o filho tão amado e esperado.
Devolver o que não quer ser devolvido. E uma multidão de abraços e consolos nos afaga, tentando nos distrair desse momento que não tem como reverter.
E uma procissão de familiares, amigos e curiosos, acompanham sua partida, a cabeça meio que atormentada nos impulsiona a dar o último beijo, o último afago, e vem a frase: Vá com Deus, filho amado!
O quarto do filho se esvazia de tudo. As coisas ficam; as roupas fora do armário, o computador ainda aberto, anotações e sonhos ainda por realizarem ou tudo intocado a espera de alguém que deveria ter vindo! O armário insiste em deixar o cheiro do ser amado, tentando nos convencer de que ele saiu e logo volta. As gavetas nos revelam tantos pertences, tantos bilhetes e tantas lembranças... E a foto do porta-retratos, que antes enfeitava o quarto, se transforma em altar sagrado da triste lembrança de que tudo realmente aconteceu.
Mas alguma coisa surge em nosso interior. Um vazio que nos invade. E a sensação de estarmos anestesiados começa a tomar ciência de nossa realidade. E esse estado de torpor, tenha certeza, são lenitivos de Jesus, tentando acalmar os corações dilacerados, mas amparados.
Ele nunca desampara um filho, ainda mais nessa hora; hora essa que Jesus também fez passar sua Mãe, quando O retiraram da cruz e O colocaram em seus braços. Ele sabe de tudo. Ele sabe o que aconteceu e o que irá acontecer.
Ah, se pudéssemos ver o trabalho de Deus nesse momento... Se pudéssemos ver Deus tomando em Seu colo nosso filho, antes mesmo dele sentir qualquer dor na hora de sua partida. Se enxergássemos a legião de anjos guardiões o recebendo, compreenderíamos que o momento da perda, já havia acontecido perante os olhos de Deus.
Por isso tenhamos fé!
Saibamos que o propósito de Deus por mais injusto que nos pareça, tem um motivo. E sempre embasado na lei do amor. Ser forte não é não chorar; e chorar não é uma demonstração de pouca fé.
Somos humanos.
Quando Jesus dizia “Vinde a mim os aflitos que Eu vos aliviarei”, Ele já sabia que as dores da alma tem seu tempo de manifestar. E Deus nos respeita, dando-nos o momento do luto.
Há tempo para tudo na vida, até para chorar. Viva esse tempo. Mas com a certeza de que ele passará, e outro tempo chegará cheio de respeito, para acalmar o coração.
Fará com que a saudade não seja mais dolorida, com que os momentos felizes continuem compartilhados nos almoços de domingo e nas festas de aniversário.
Deus trará novamente a vontade de viver. Vontade de viver em homenagem à seu filho.
Viaje por ele, faça graça por ele, retome a vida por ele! E essa alegria contagiará os seus corações, tornando-os eternamente em uma comunhão de amor e ternura.
Deus não machuca ninguém. Não desampara 99 ovelhas para socorrer uma. Ele com sua onipresença também estará com as outras ovelhas. Mas quero que hoje, você se sinta como Sua ovelha predileta. Sinta-se em Seu colo, recebendo Dele toda ternura e consolo de Pai.
Seu filho já está de volta à Sua casa e a certeza de que ele foi apenas à frente, nos faz crer que ainda fazemos parte deste jogo da vida, até Deus achar que atingimos nosso objetivo.
Que Deus ampare todas as mães e pais que hoje choram ou irão chorar a ausência de um filho, dando a eles a certeza da vida eterna e do tão esperado reencontro.
Esta apresentação reflete a opinião pessoal do autor sobre o tema
Copyright© Walter Sormanti Hassin*
Tra. e adapt. por Flávia Rott
*Médico Psicanalista, com formação em Medicina Chinesa e Acupuntura pelo International Beijing Trainning Centre/China, no ano de 1986. Anestesiologista e Clínico da Dor.

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