quinta-feira, 30 de maio de 2013

COMPARTILHAR MINHA EXPERIÊNCIA É MINHA MANEIRA DE CHORAR COM OS QUE SOFREM COM A DOR...

Nestes últimos 15 dias vivi muitas emoções: Chorei,chorei,chorei, alias há um ano nove meses e 12 dias, tenho aprimorado muito minhas lágrimas, estão cada vez melhor!(kkk) Mas, é verdade chorei de tristeza, chorei de arrependimento, chorei de alegria, chorei de raiva, chorei de saudades... Consolei... Conheci pessoas maravilhosas, vivi momentos preciosos!

A cirurgia do pai teve duração d 7h, então logo no início sentei-me numa poltrona da sala de espera, puxei meu bordado e comecei a bordar então uma senhora bonita e elegante puxou conversa dizendo que estava aguardando seu pai que estava fazendo cirurgia, até aí tudo bem, mas, como se estivesse escrito na minha testa: ”Luto eterno, compartilhe” em lágrimas e soluços desabafou que gostaria de poder ter ajudado seu marido como estava ajudando seu pai, pois o marido morreu a dois anos de infarto dormindo sem ao mesmo dar um gemido,quando ela acordou, ele já estava sem vida, então compartilhei com ela a perda da Letícia, pois essa é minha maneira de chorar com as pessoas que sofrem com a dor e conversamos sobre livros espíritas que nos acalmam, no momento ela tirou da bolsa o livro: “Só o amor é real” eu nem acreditei, pois eu estava lendo o mesmo livro!Percebi que compartilhamos a esperança do reencontro na vida eterna!Então seu pai saiu da cirurgia e ela o acompanhou e logo chegou uma jovem senhora e sem ao menos eu perguntar relatou que estava acompanhando seu pai num exame e que cuida do seu pai, pois é filha única e que sua mãe os abandonou quando ela tinha apenas três meses de vida e a partir daí seu pai trabalhou muito para sustentá-la e ser presente, relatou que há um ano pediu para o pai para conhecer a mãe, só por curiosidade e disse que a vida da mãe não é boa, ela teve outros filhos e vive na pobreza, enquanto seu pai nunca mais casou e nem teve mais filhos para se dedicar a ela. Enquanto ela me desabafava eu pensava na ironia do destino umas mães abandonam e outras perdem. Por quê???Ela saiu da sala e chegou um Senhor que devia ter uns 40 anos, todo preocupado, pois sua esposa estava tendo seu primeiro filho, me perguntou por várias vezes se era normal a demora eu disse que sim e que iria dar tudo certo, mas, no meu íntimo eu pensava: Será que vai dar tudo certo?Pois estou acostumada a ver tantas histórias tristes que para mim é normal não dar certo. Depois de um tempo a enfermeira lhe entregou seu bebê nos braços e pude ver seu semblante de alegria, lembrei-me do Luiz no dia em que a Letícia nasceu... Então ele queria que eu visse seu bebê, eu não queria me aproximar, mas, engolindo uma lágrima disse: ”Ele é muito lindo, todo perfeitinho!” e ele seguiu com sua esposa para o quarto e me veio na mente a primeira vez que eu vi a Letícia toda perfeitinha, peladinha e com os olhinhos bem abertos, uma imagem que eu não preciso de fotografia para lembrar... Como já era quase meio-dia fiquei ali sozinha por algum tempo, até chegar a Maieli com sua mãe, o pai da Maieli também estava fazendo uma cirurgia, mas, mesmo passando por um sofrimento ela me ajudou muito, com ela percebi que muito melhor do que ter milhares de amigos é conhecer um amigo num momento difícil que te estende à mão!Assim foi quando estava na UTI com a Letícia, quando encontrei a Pedrinha e o Marcos e assim foi quando estava na UTI com meu pai,quando conheci a Maieli e outras pessoas que nem lembro o nome, ou melhor, nem me disseram seu nome, mas, me ajudaram!Na verdade não sou uma pessoa de muitos amigos, mas sempre que estou precisando aparece um anjo para me ajudar!

Entrar na UTI para visitar meu pai foi como se eu voltasse o tempo para trás e estivesse visitando a Letícia na UTI,ele estava em coma induzido e assim permaneceu por três dias, nestes dias toda vez que eu conversava com o médico perguntava se ele realmente estava em coma induzido ou se ele não havia acordado, pois com a Letícia eu não queria escutar dos médicos que ela não estava sem sedação eu acreditei até o último exame de EEG que ela poderia estar viva, mas, não estava...

Residir numa casa de apoio também me remeteu as lembranças de um ano e nove meses, mas, não senti tristeza, pelo contrario me senti muito a vontade, pois, pude conversar sobre a Letícia sem ninguém me repreender, me julgar ou não querer escutar, apesar das mãezinhas estarem com seus bebês na UTI neonatal, me tratavam como mãe, não como excluída das mães, não com piedade! E eu pude conversar normalmente com elas sobre a gravidez da Letícia, o nascimento da Letícia, a Letícia!Tanto me aceitaram que havendo dois quartos na casa sendo um para as mães da UTI Neo e o outro para a UTI geral fui convidada a ficar no quarto da UTI neo e me identifiquei muito lá e apesar da dor de ter perdido a minha Letícia, torcia muito para os bebês das minhas amigas!Alegrei-me quando o bebê de uma mãezinha que ficou três meses na UTI neo teve alta e foi para casa, me alegrei quando a filhinha da Andrieli que há dois meses está na UTI foi desentubada e pela primeira vez ela pegou sua bebê no colo!Mas, sofri, quando o Gabriel gêmeo do Rafael também virou anjinho e foi encontrar seu irmãozinho no céu!Sofri também quando vi 7 dias depois da sua morte que sua mãezinha havia feito um pedido,dias antes da sua partida, na capela do hospital para que ele se recuperasse. 
Um dia a Andri estava dobrando as roupinhas de sua bebê que foram usadas apenas nos dois primeiros dias de sua vida e mostrou-me a camisetinha de um pijaminha rasgado,logo veio na minha lembrança que eu também tenho um pijaminha que fora rasgado quando a Letícia fora entubada e eu que pensava que só eu que tinha esta triste lembrança...
Talvez eu precisasse viver tudo isso!Não sou a única que perdi minha filha! Ao lado da enfermaria cardiológica, estava a pediatria, me encantei com as crianças que com dois ou três anos,apesar de doentes corriam,brincavam e muitas vezes sem eu ao menos olhar para elas, corriam para mim, dando gargalhadas, talvez sentindo a presença da minha anjinha ao meu lado!

Foram dias difíceis, mas, de muito aprendizado, que me trouxeram o seguinte questionamento: Será que Deus quis que eu experimentasse o extremo da dor com a perda da Letícia para poder entender a dor dos outros?

Um comentário:

  1. lili faz tempo que nao te escrevo nada mas hoje nao tem como essas suas palavras me fazem chorar e nao comsigo imaginar o tamanho da sua saudade e lembrece mesmo eu nao sendo mae de anjo sinto como te conhecece a muito tempo como se voçe fosse uma amiga muito especial quando precisar estou aqui fique com deus e com a nossa anjinha

    ResponderExcluir