sábado, 23 de abril de 2016

Partiu cedo.

“Partiu cedo. A vida, estranha e deliciosa como ela só, não perguntou se estava na hora. 

(...)
A dor chegou, a dor explodiu na casa, no quarto, na varanda, Senhor, a dor era tão intensa que, em alguns momentos, não cabia nos livros, não cabia no coração. Quem ficou, procurou respostas, perguntou para os que estavam por perto, para os que estavam longe, sim, como se houvesse explicação para essa noite no seu dia, para dias tão frios com tanto sol, afinal, era cedo demais.
Era tanto sofrimento, que simbolizavam a própria dor, ainda assim a vida seguiu, apesar da dor, apesar do amor, apesar do vazio. Sentiam um descontentamento, daqueles que os olhos vazam as paredes, daqueles que a comida não tem sabor, daqueles que as pessoas falam, mas não há som.
O amor, intenso, delicadamente, pediu licença para se misturar à dor. No meio da dor lembraram-se dos sonhos esquecidos, no meio da dor lembraram-se do filho, do namoro que ele mantinha com a vida, sorrindo. Sentiram paz, apesar da dor. Sentiram alegria, apesar da dor. Sentiram tanto amor que agradeceram pela estadia, agradeceram a memória: da voz, do jeito de andar, das histórias vividas, das músicas que ele ouvia, dos tênis e roupas espalhados pela vida, dos amigos que haviam passado por ali, das fotografias. No meio da dor, lembraram-se do sorriso do filho.
Todas essas memórias viraram alimentos, Senhor, daqueles que enchem o coração e a alma. Alimentados com as lembranças mais doces desse filho, juntaram os sonhos esquecidos e pegaram uma carona com a vida…chorando, mas sorrindo….”

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