Escolhi a opção mais difícil

Desde que a Letícia tornou-se um anjinho e voou para o Céu eu e o Luiz temos tentado através de muita luta não nos entregarmos e sobreviver. Como qualquer ferida, e essa é a maior ferida que alguém pode ter, ela leva um tempo para cicatrizar. Para mim seria muito mais fácil me jogar na cama, num quarto escuro e chorar, chorar e chorar, porém, essa não é a minha escolha. Muitas mães que não passaram pela perda de um filho, comentam: ”Se fosse comigo eu não aguentaria  Mas, eu digo aguentaria sim! Eu estou aguentando e não sou melhor do que ninguém!

Eu tenho uma vida que segue um marido que me ama, um trabalho que me recompensa e uma filha que não está mais aqui, mas não gostaria de me ver acabada e também não deixo de pensar nos meus pais, irmãs e sobrinhos e claro minha companheirinha Lilika. Por esses motivos, escolhi a opção mais difícil que é lutar contra a própria mente. Por diversas vezes durante todos esses meses fiquei muito triste e chorei muito, mas em diversos outros momentos respirei fundo, tentei ver outras coisas e ir seguindo. É impossível ficar triste sentindo o carinho do meu marido, da minha família e as bagunças da Lilika por exemplo. Se eu optasse por me entregar, eu em nada ajudaria o Luiz, eu me tornaria mais um peso nesta fase tão pesada.

Ontem foi a formatura do pré da minha sobrinha. Claro que não tinha como não pensar que a Letícia poderia estar conosco fazendo bagunça,correndo,pulando, roubando a cena da priminha. Mas, não está essa é a nossa realidade,vi muitas crianças que tem a idade que a Letícia teria,teria... Mas não tem, realidade dura!Cheguei a pensar...daqui quatro anos poderia ser a formatura da Letícia...poderia,mas, não vai ser!Na saída uma Senhora cumprimentou o Luiz e ele me apresentou dizendo-me:" foi ela que fez o sapatinho..."da Letícia.

Resumindo, não somos super heróis, perdemos uma filha e, como qualquer pessoa que perde um filho, sentimos uma dor imensa, indescritível, mas fizemos uma escolha, escolhemos sobreviver e voltar a ser feliz de alguma forma!!!Nós estamos vivendo uma fase triste, mas com alguns momentos felizes.

Depois de passar pela perda da Letícia temos até mais facilidade em nos sentirmos felizes com certas coisas que antes eram normais agora nos dão grandes alegrias. Estar com meu marido que eu amo também meu faz extremamente feliz e me traz muita tranqüilidade, sei que ele está comigo e sem ele seria impossível, sei também que a recíproca é verdadeira. É impressionante como a gente se divide bem, quando um dos dois está triste o outro está ótimo. Nunca estamos os dois chateados ao mesmo tempo. Essa nossa cumplicidade nos dá uma força imensa e percebemos a força do nosso relacionamento.